quinta-feira, 26 de julho de 2007

Ouvia uma canção triste, uma canção de amor triste. Naquele instante era a canção de amor triste, mais triste do mundo. Entendia o que o "eu-lírico" dizia, mas antes entendia melhor, muito melhor. Embora fosse feliz em não entender profundamente o eu-lírico de uma canção de amor triste, era vazio não entender qualquer amor ou qualquer canção de amor, triste ou alegre.
Olhou para baixo e ali estava ela, a garota que sempre segurava a mochila de alguém. Não importava se a bolsa fosse pesada, se estivesse molhada, se fosse uma blusa, se fosse um cachorro ou um papagaio. Tinha ombros e olhos caídos pessoas assim, em geral lhe causavam pena. Não entendia mais nada sobre amor, sobre sofrer por amor ou sobre ser feliz por causa de um amor. Mas sabia bem o que era sentir pena, já sentiu pena de tanta gente.
Lembrava sempre do funcionário novo e que agora devia já ser velho, da biblioteca. Tinha cabelos crespos e escuros, os ombros caídos e rodava incessantemente para achar a área de livros sobre os modos de vida dos invertrebrados. Não gostava de encontrá-lo, seu coração apertava e sentia vontade de ajudá-lo de salvá-lo do mundo e de todas as estantes do lugar. Era um sentimento autoritário de quem quer salvar pela força quem não precisa de salva-vidas. Agora vendo de longe quem precisava ser salva era ela.
O rapaz dos correios também era pessoa recorrente, não tinha agilidade nenhuma e optava sempre pelo método mais difícil para colar todos os selos em 235 cartas. Em certos momentos lhe causava raiva, no instante seguinte era penitência. Pretendia salvá-lo também, sem falar muito quase sempre tomava a folha de selos de suas mãos e ia colando sem muito jeito selos em qualquer envelope que aparecia.
Havia os personagens de dó instantânea, mas esses passavam tão rápido e para nunca mais aparecer, que eram como se fossem moedinhas de 1 centavo.
A menina ainda estava ali sentada, segurando uma mochila. Em pé ela olhava seu reflexo na janela, desligou a música e concentrou-se apenas no barulho dos carros. Precisava salvar-se também, salvar-se do rude, da testa franzida e do peso nas costas. Uma voz engraçada a tirou da quase cegueira promovida pelos faróis dos carros, era uma voz de criança. Uma risada baixinha, que tinha inevitavelmente dedos curtos na boca. Por alguns instantes salvou-se e sorriu o melhor sorriso que tinha da piada suja e pesada há tanto conhecida e há tanto esquecida. Segurou-se na piada, desceu sorrindo não disse tchau para a menina sentada.

3 comentários:

Mauricio disse...

Si logré entender, debido a mi escaso vocabulario en portugués, creo que esa joven podrá ser ambas cosas algún día, niña y mujer, pues tiene voluntad de crecer y lo más importante . . .un corazón noble ante la vida!
Gracias por no olvidar a esas mujeres. besos!

thiago disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
thiago disse...

estou adorando seu blog cada vez mais... a série 'mamãe sou arquiteta...' é demais! é muito bom ler seus textos e tentar descobrir, decifrar de onde vieram as inspirações e referências que você usou para construí-los!
às vezes a garota que sempre segurava mochilas pode ser você e eu nem sabia?! quem sabe?!