terça-feira, 26 de março de 2019

Gestação

A gravidez foi e tem sido um dos momentos mais legais da minha vida, dos poucos poréns que tenho a elencar um dos mais irritantes são as frases do gênero:

-"Aproveita pois depois que nasce a sua vida vira um inferno."
-"Seu cabelo, pele e unhas vão ficar bem fracos depois que a Alice nascer."
-"Ihhh, nunca mais você vai ter Carnaval."
- "Ah tem que desapegar, pois sua casa vai ficar uó."

E ao longo dos meses fui refletindo sobre as frases acima, que fora de contexto parecem que vem juntas com as facas Ginsu para você se matar, mas que na maioria das vezes (e assim espero) vieram carregadas de boas intenções. 

Minha primeira reação aos comentários foi "onde é que fui amarrar meu barco?!", depois do segundo conselho me dei conta do seguinte: "Gente, eu tenho 37 anos e ESCOLHI ser mãe, não tenho mais 20 anos e engravidei sem querer e terei que optar entre a balada com os amigos da facul ou minha filha." 

E nisso fui formalizando um raciocínio mais linear sobre minha irritação com esse tipo de comentário. Vem comigo!

Quando eu tinha 30 anos a discussão sobre maternidade, tipos de parto, paternidade etc estavam muito no começo e era um momento em que se fazia necessário trazer à tona a MATERNIDADE REAL e acredito que assuntos como esse precisam sim de radicalismos. Sete anos depois muita coisa ainda tem que evoluir mas eu enxergo que o mais importante está de certo modo mais consolidado (pelo menos dentro da minha bolha) que é prevalecer a vontade da mulher, da presença do pai como responsável na empreitada e não apenas um 'ajudante' etc. E quer queira quer não, uma mulher de 37 anos não cai de pára-quedas na maternidade. 

E aí, nesses conselhos que te "jogam a verdade na cara" que tem intenção de te contar que a maternidade não é só um mar de rosas, também mora o perigo. Porque a gravidez, ao meu ver precisa de magia, precisa de alienação. Os pais nos três primeiros meses, não dormem, mal tomam banho e são alimentados de migalhas (esse é o cenário que estou esperando) se a pessoa não enxergar um sorriso no "movimento involuntário dos lábios do recém-nascido" ela surta. 

Além disso a vida de uma pessoa é feita de fases, quando você vira mãe as fases da sua vida começam a ser regidas pelas fases dos seus filhos. Sendo assim, tudo que está dentro do contexto não é sacrifício, é o esperado. Se a Alice aos 15 anos precisar que eu acorde de duas em duas horas para acudi-la isso sim será sacrifício. 

Somado a isso eu tenho uma coisa pra contar, eu já desci até o inferno e voltei. Entre os 35 e 36 anos eu tive dois tipos de câncer diferentes, passei por 2 cirurgias, uma radioterapia e ainda terei que encarar uma iodoterapia. Hoje em dia eu posso afirmar que se tem uma coisa que aprendi em quase dois anos de vida estagnada é que sim, um bebezinho chupando o dedo no ultrassom compensa tudo.

Chega mais Alice, a mamãe tá doida pra te conhecer. 

Essa é a música sobre o estado da Alice em meu útero 💓


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