domingo, 26 de outubro de 2008

sempre e nunca.

Mesmo sabendo que o mundo não precisava dela para acontecer, gostava da sensação de saber que se não estivesse naquele vagão, no exato instante, nunca teria conhecimento de que a moça de vestido justo usava cinta por debaixo dele e que muito embora ela não conhecesse a pequena senhora de cabelos cinzas e sacola de contas as duas carregavam nos olhos a mesma expressão de quem carrega consigo uma alegria mansa, que mantém o mesmo ritmo do coração por todo o tempo.

Era quase um alívio descobrir pequenos tesouros ao longo dos dias, como se conseguisse salvar o mundo e a si mesma de toda a mesmice diária. E infantilmente vislumbrar um tempo em que a felicidade não fosse cíclica, mas uma linha constante.

Como sabia que nunca seria daquele modo, colecionava estoques de sutileza para momentos brutos em que a garganta se fecha e o coração brinca de ser um -.

Para a hora exata, lembraria sempre do homem que para comemorar com verdade, seus 90 anos vividos, buscaria nos mais antigos discos do seu tempo a única canção que o traduzia "Adeus minha mocidade" , balançando a cabeça em forma de assentimento e olhando para esposa as vezes levantava a sobrancelha e esboçava tímido um sorriso antigo.

Para o momento certo, sentiria ainda no seu ombro a cabeça encostada, a mão em torno da sua, o silêncio almejado e veria com as mesmas cores o dia que morria atrás da linha do horizonte.

Um comentário:

Andy disse...

adoro a sua percepção do mundo.
bjo
ss