segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Hoje, só amanhã.

"Moça, não posso validar seu cartão. Ou você o registra, ou nunca deixa faltar dinheiro nele." e a moça responde, "Mas é da empresa, tem meu nome na frente, como não está registrado?", "Ah, isso eu não sei, só sei que a catraca tá dizendo que eu não posso validar" e com a insistência de um castor que acaba de ter seu dique destruído pela correnteza ela responde: "Mas eu passei ontem a noite desse mesmo jeito e validou." e para matar a esperança, na própria esperança, a resposta veio rasgante "Olha, hoje só amanhã."
E já inaugura o dia sabendo que está em dívida até com o passe de ônibus, com o desolamento de um castor que acaba de ter seu dique destruído pela correnteza e que percebe que começou a chover, senta no lado que bate sol e fica tentando ver graça no sol da manhã. Mas a única coisa que pensa, são nas coisas que deveria ter feito e não teve tempo para tal. Devia ter mandado tal e-mail, conferido tal projeto, ter feito tal telefonema, adiantado tal coisa e isso e mais aquilo e mais aquiloutro. Era duro manter tudo sob controle, ter punhos de aço e cercar a vida de todos os jeitos para que nada saísse errado.
E era sempre no momento em que acreditava que daria certo, surpreendia-se com a possibilidade imprevista e catapimba, vem a vida e te mostra que sabe mais. E que não adianta morder a língua para não chorar e nem rímel a prova d'água, a lágrima vem inconsolável e é melhor pensar que por sorte lembrou-se do óculos escuro. Também não adianta olhar na janela do oitavo andar do prédio rosa para ver se o lustre de todos os dias está lá e nem procurar alguma história alheia no homem que tira meleca do nariz no carrão ao lado. A vida está lá, olhando para a sua lágrima e esperando ser encarada enquanto não cai a próxima.

Um comentário:

Fabiano Conte disse...

Seu texto é tão, tão, mas tão legal. Você diz coisas tão, tão, mas tão legais.

Pq não escreves mais?