segunda-feira, 12 de maio de 2008

por não saber

Sabia pouco sobre ela, sabia que não gostava de tirar fotos, que não se casou, que não teve filhos e que tinha joanete grandes e doídas. Nunca sentaram na mesma mesa de almoço, pois ela sempre comia depois de todos e diziam que ela fora acostumada a isso pelo pai, que não suportava o fato dela sempre o contrariar.
Sabia também que ela teve um namorado e que se vestia muito bem quando jovem e que foi a Petrópolis algumas vezes e imaginava que ela gostava de palácios e de praças cheias de topiarias, mas nunca perguntou isso para ela então era mais uma história, uma opinião e um causo que ninguém mais saberia.
Nunca soube se ela gostava de amarelo ou vermelho, se preferia cheiro de jasmim a rosas ou se era devota de Santa Rita ou de Santa Clara, se ela gostava de ler, se gostava de música e se achava o William Bonner bonito. Sempre teve medo que todas as velas que acendia para a infinidade de santos que moravam em seu quarto, um dia poderiam tocar fogo na casa e que do espelho gigante grudado no armário pudessem sair todos os monstros habitáveis na cabeça de uma criança e nas lembranças dos tempos de criança.
Agora tinha certeza que o final da história da Família Corujinha estava perdido para sempre, restava apenas a lembrança do som cremoso das pedras do colar que insistiam sempre em se encontrar, a lembrança do cafuné em seu cabelo de criança e o gosto doce de pudim de pão, doce de jaca e uva caramelada.

Um comentário:

Andy disse...

amiga, lindo, sempre. beijo.