quarta-feira, 19 de março de 2008

Era certo que não conseguia parar de pensar na cena assistida semana antes, assim como não conseguia parar de pensar no poema lido meses antes. Tratavam de assuntos distintos e distantes um do outro, mas ambos tinham um odor especial. Mesmo embora nenhum dos dois exalem qualquer odor de fato, sabia que eles estavam lá.
Permaneciam presos em algum córtex que insistia em não decodificar informação nenhuma, mas que quando era driblado pelo acaso transformava o mundo em algo que ultrapassa o cotidiano de milhares de cores, sabores e texturas. E mesmo que o acaso durasse apenas alguns segundos, era só fechar os olhos fixar o pensamento na cena, no poema que o cheiro voltava e tudo fazia sentido de novo e cada coisa estava em seu lugar. Conseguia voltar no tempo e sentir as mesmas sensações, escutar sua risada de criança, ganhar um afago de gente que já se foi e guardar para si mesma o odor fiel e original das pessoas que amou.

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