Não admitia que havia envelhecido explicava, sem paciência, para a velha ao lado os reajustes monetários dos anos de 78 a 82 e como estes influenciavam na sua atual aposentadoria. Comentava que comera no almoço um miojo, pois já estava sem dinheiro logo no começo do mês. Falava alto e desesperadamente, sem escutar o que sua companheira tentava alegremente balbuciar.
Ela que tinha acabado de comer uma fatia de melância de procedência desconhecida, na esquina de tijolinhos. Sentiu raiva da velha. Como alguém era capaz de saber o preço da banana nos anos de 95, 96 e 97? A velha já nasceu aposentada, já nasceu calculando e culpando os reajustes e juros de sua desgraça.
Sentia-se um pouco como a velha, lembrou-se do rapaz que há tempos vira no supermercado. Alto, desengonçado, com um sorriso de quem pede desculpas por sorrir. Arrependeu-se em não retribuir o sorriso, sentiu medo dos olhos dele e de se perder por lá...
Um comentário:
Menina querida das entrelinhas.
Postar um comentário