sexta-feira, 19 de julho de 2024

Quase a casa da avó

Eu não sinto cheiro, não sinto nada. 
Desde uns 10 anos de idade, eu não sinto cheiro. Quem me conhece há tempos sabe que isso é quase que um padrão definidor da minha vida. Já comi muita comida estragada, criei várias manias por causa disso, mas estou aqui vivendo há uns bons anos sem esse sentido, sem investigar muito e "estamos aí". 
Os cheiros têm zero importância na minha vida. Uma vez, me perguntaram como era viver sem saber o cheiro da minha filha. Querida, eu não sei nem o meu cheiro, se liga. 
Mas, embora não sinta o cheiro de nada, eu tenho memória olfativa, o que significa que conheço o cheiro de algumas pessoas, lugares, comidas... mas são cheiros passados, que só eu sinto. 
Eis que vim para a casa da minha prima, que sabiamente restaurou a cristaleira da casa da minha avó, e todos os cheiros de uma infância inteira estão aqui comigo. Tem cheiro de óleo de peroba, de pudim de pão, fruta cristalizada, coalhada seca, quibe frito, Coca-Cola de garrafa, Água de Rosas e do creme Yamasterol. 
Tá bom demais.



Nenhum comentário: