segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Alice e Julieta

- Ainda bem que vocês chegaram da piscina, já está quase na hora do almoço. Cadê sua mãe?
- A mamãe ficou na piscina, disse que vem depois. 
- Sua mãe não tem jeito. Não sei como vocês sobrevivem em SP, coitadas das minhas netas.  

40 minutos depois, a mãe chega. 

- Mamãe, você demorou. Você não cuida bem da gente!

- Deixa a mãe de vocês em paz, ela veio pra cá para descansar. Já basta ela sozinha em SP com vocês duas. 


E neste ambiente fui criada. 

No dia 18 de Julho, minha avó Alice, se estivesse viva completaria 96 anos. Infelizmente ela nos deixou bem antes disso. Mas convivi com ela tempo suficiente para aprender tudo o que sei sobre incoerência, alegria e comer bem.

Das minhas melhores memórias de criança ela está presente em todas. Desde a pizza de pão até as flores de papel crepom que ela passou 1 mês produzindo para o meu aniversário de oito anos cujo tema era Primavera. Além claro das noções de fartura, que extrapolam os limites da sanidade.

Sobre a incoerência herdei da minha mãe, que herdou dela. Admito. Somos capazes de amar e odiar mudando o pólo em frações de segundo. O único quesito com o qual ela nunca foi incoerente foi com sua alegria. Isso ela esbanjava de montão.

As vezes eu fico pensando se minha avó sofreu de ansiedade, suou frio, passou mal do estômago por ter feito alguma merda no trabalho ou por ter atrasado alguma entrega. Claro que ansiedade por isso ela não passou, talvez tenha sentido uma tristeza profunda por milhares de outras coisas, mas em minha memória ela estava sempre sorrindo.

E se existisse um gênio da lâmpada para me conceder 3 desejos um deles seria ter convivido mais tempo com ela. Escutar o que ela teria para me dizer na minha vida adulta.

Vó, o texto está atrasado, mas é de coração.

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