segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Jogue fora sua sorte.

Dentro do vagão era só mais um. 
Mais um daqueles que usam calça manchada, tiram sobrancelha, mas fingem que não sabem o que é uma pinça,  gel no cabelo milimetricamente desorganizado, tênis caro pago em prestações infindas e obviamente um celular que berrava qualquer música ruim.

Toda essa parafernália escondiam um tímido rapaz respeitador. Respeitador de tudo, de qualquer coisa, menos da audição alheia. Piadinhas a parte, quando finalmente conseguiu sentar, notou embaixo do banco um bilhete que parecia de loteria. Mas cla-ro que não era. Mesmo sabendo que não era e abrir o bilhete seria uma falta de respeito com quem esqueceu ele ali, ou até mesmo jogou fora, em menos de 30 segundos comprou todos os tênis da via láctea, o iphone 23, bonés, um sobrando bem comprido para a mãe e uma Ferrari.

Passado o frenesi e nem com a possibilidade de realizar compras magnânimas, decidiu que aquilo não era um bilhete, era só a recarga do vale transporte de alguém, ou o pagamento de alguma conta desse mesmo alguém e podia ser também um bilhete de amor desse certo alguém. E não era justo abrir o papel para verificar, invadiria a privacidade do alguém e ouviu falar que isso não era bom. Não era bom nem se fosse para ganhar na loteria.

O trem chegou na estação final, encerrou o assunto e jogou fora o bilhete premiado.  

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