segunda-feira, 26 de novembro de 2012

sobre ovos e uma mulher forte.

Fato: apesar da deficiência olfativa, carrego uma neurose com cheiro de ovo. Adoro ovo frito, omelete e derivados, mas sempre que como meu desejo é logo em seguida tomar banho, lavar com água sanitária pratos, panelas e copos utilizados na refeição. Para um mente exagerada o cheiro ruim do ovo fica impregnado em tudo. Assim como Midas que em tudo que tocava virava ouro, para o ovo é a mesma coisa, em tudo que ele encosta vira fedoca. Ok, a comparação é péssima. 

Da origem: como as mães são sempre as culpadas, não há diferença nesse caso. Foram anos comendo "ovinho" frito com a gema mole, salzinho e no final,  já lavar a boca e as mãos!

Da origem da origem: até bem pouco tempo imaginava que a origem dessa neurose era uma mãe exagerada e ponto. Mas quando ouvi minha tia falar sobre os males do cheiro do ovo, entendi que a origem foi minha avó. 

Minha avó. Ela tinha dois nomes, um de batismo e outro na certidão. Isso já é o suficiente para uma criança entender que com todo mundo deveria ser assim, certo? Pelo menos acreditei nisso por um tempinho e desejava também ter dois nomes, mentira, três: Harissa, Sofia e Meria. O nome de batismo era Alice, o nome da certidão Julieta. Explico, os pais queriam que ela se chamasse Alice, quem registrou no cartório foi um tio, que por sua vez gostava do nome Julieta. Ele a registrou como Julieta, avisou a todos que o nome era Alice e como em 1918 Certidão de Nascimento não era algo assim tão corriqueiro e ficava no cartório ela descobriu apenas aos 18, quando tirou a Carteira de Identidade - para se casar, que seu nome "burocrático" era Julieta.  

No "frigir dos ovos" (trumtisss) ela permaneceu como Alice.

Das memórias que tenho, a questão do cheiro do ovo é nula, apesar da comida ser uma constante. Ela me denominava como a neta mais carinhosa, contudo briguenta. Incoerência era um dos seus fortes também. Além disso, nunca usava calça. Saia e vestidos sempre. Para cada neta, um prato preferido. A casa era sempre cheia e eu nunca a vi chorar. Era dessas pessoas que com um cordão invisível unia toda família, e levava a todos um sorriso nos lábios. De seus nove irmãos foi a última a falecer e eu nunca a vi chorar.

Faleceu há tempos, tanto tempo que nem conto mais. Vive na minha memória sempre alegre e presente. Quando bato perna na rua, quando ergo sempre a cabeça para a felicidade. 

Hoje em dia me ensina a cozinhar, depois de uma legião de aprendizes, indiretamente chegou minha vez. 

2 comentários:

Unknown disse...

Lindo... lindo... lindo!!!!!!

Mateuso disse...

Amei! Ha!