quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Tique tique tique tá.

Era uma japonesa de cabelos crespos, o que por si só justifica o semblante de mal humor constante e como se já não bastasse ser uma das únicas de sua espécie a portar frizz no padrão Gal Costa, a usar roupas de lã em um final de tarde de 27°C, ainda tinha tique nervoso. E não era só uma piscadinha aqui outra acolá, era um desses tiques impossíveis de administrar em um ônibus lotado, na hora do rush e no dia mais quente do ano.

Virar o pescoço por três vezes para o lado direito, piscar com força duas vezes e nunca em hipótese alguma tocar no cabelo, nem que fosse para prendê-lo num coque, era seu ritual "tiqueano". Se não fosse pela constância dos movimentos, não seria possível notar o tique pois o espaço de tempo entre os movimento eram muito longos. Mas ali entre cobradores que paqueram menininhas, senhorinhos que relembram as maravilhas do tempo de Getúlio Vargas, técnicos de informática com celulares presos no pescoço, mães que buscam os filhos na escola e todo o tipo de gente que passa horas em pé limpando o suor da testa e matando "bichinhos de luz", sabia que ela tinha tique.

E talvez a carranca não fosse pela chacota da natureza, mas sim por todos os olhares curiosos de todas as horas.

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