segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

saber eu sei.

Existe sempre aquela história que não quer ser escrita, a princípio não se sabe se é porque se tem medo de escrevê-la ou porque as palavras não vem. Como quando se é pequeno e não se tem coragem de contar para o pai que pegou um cachorro-quente fiado com o tio do carrinho e fica-se com vergonha do pai pela desobediência, com vergonha do tio do cachorro-quente pela dívida e com vergonha de si mesmo pela covardia. E a palavra pára na porta da boca.
E não faz sentido escrever sobre homens que fazem escova progressiva no cabelo e que provavelmente frequentam ruas decadentes do bixiga. Como também não há espaço para o rapaz de ombros de cabide e bochechas rosas que se vê todos os dias há dois anos, descendo ou subindo a mesma avenida e pelo qual se tem uma curiosidade passageira, porém profunda sempre que o vê. E também tem o rapaz coxinha nerd que aos 26 anos tem o rosto tomado por espinhas, lê livros de matemática para gênios e guarda o passe de ônibus em uma carteirinha de clube de futebol.
Ninguém e nada é mais interessante do que a história que não quer sair no papel e que já foi escrita por tanta gente. E não era possível escrever sobre a lâmpada amarela da cidade velha e sobre aquelas fotos que deveria tirar antes que os lugares morressem de vez e sobre aquela música que enche o peito de um ímpeto salvador do mundo ou tão reconhecedor do próprio mundo e que não deveria ser enviada a quem se destinava, por pura proteção.
E a cidade parecia a mesma de quando pequena e que tinha que sair com os pais e gostava mais do caminho do que do ponto final, com toda aquela gente apertando a bochecha e enfiando comida goela abaixo. E nessas horas, sabia não sabendo que gostava mais do caminho.

2 comentários:

Denise Malta de Andrade disse...

Harissaa!
Ensaiei um depoimento no orkut pra vc, com aquela famosa frase "apaga isso!" no final, mas nunca enviei... Até que veio a coragem e a decisão (não necessariamente nessa ordem), mas vc não estava mais lá...
Aí, lembrei que vc tinha um blog...
E agora, estou aqui, num arrependimento quase empolgante, pra escrever alguma coisa que eu não sei o que é.
Sim, eu sei, vc deve estar se perguntando "quem é essa doida?"... Eu tb me pergunto isso e tb por que estou fazendo isso, mas a verdade é que eu tenho uma admiração por vc, mesmo só te conhecendo das antigas lembranças de classe da minha irmã. Porque eu estudei com a Haaillih e minha irmã estou com vc...
Era só dizer que gosto bastante das coisas que vc escreve e do seu semblante brilhante.
Não sei, mas existe uma luzinha diferente em vc... e isso me fez vir aqui e escrever um monte de coisas sem explicação...

Um beijo,
Denise.

Harissa B. disse...

Ei Denise! Que bom ler as coisas que você escreveu! Fico muito feliz e satisfeita que goste das coisas que escrevo e lisonjeada pela admiração.
Obrigada!

Um beijo
Harissa