quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

tudo em volta está deserto, tudo certo...

Era como na música, cantanda por uma irreconhecível calma e boa Gal Costa. Com uma mão protegia os olhos do sol, com a outra guiava a mulher que instintivamente ia a frente. Era o instante perfeito, com gosto de doce de leite e baunilha.
Não sabia se pelo sol ou se pelo doce de leite, encontrou parado quem sempre buscava. Aquele que buscava todos os dias no rosto do rapaz que sentava ao seu lado no ônibus, na velha miserável que pedia esmolas ou vendia panos de prato, na atendente de supermercado que sempre errava o troco, no florista de galochas e sem camisa, nos olhos brilhantes da criança que volta da escola e no fundo dos seus próprios olhos que brilham por menos um dia de máquina de calcular.
Aperta os olhos cegos pelo sol e com vergonha da certeza do erro, do desencontro e da garganta que seca sem ao menos um suspiro. Desvia o pensamento para a mulher que a guiava, mas arrepende-se pela covardia e olha para trás, em um gesto besta de esperança por talvez ser notada.
Aquele que procura levanta finalmente a cabeça, tira os óculos, sorri e também aperta os olhos. Ela devolve o sorriso, um sorriso sem jeito e despedaçado, na boca o gosto de baunilha e doce de leite permanecia, o sol ainda batia em seus olhos e a mulher que a guiava a puxava insistente. Se não olhar para trás fosse sinônimo de ser forte, dessa vez ela não foi...

Um comentário:

::gabriela::gaia:: disse...

lindo! tinha tempo q não passava por aqui! bjo!