terça-feira, 25 de dezembro de 2007

para sempre sábado.

Nunca entendeu muito bem aquela casa, sala verde cheia de cetim e veludo escuro, um cachorro pequinês-piranha que morava na janela e tinha nome de banda de rock, uma mesa de centro com potes de prata e pedras vermelhas, carpete macio na cor bege e um espelho que cobria quase toda a extensão da parede. Da sala para a cozinha tinha uma pia, um dos momentos mais incríveis da casa pois a saboneteira dela era mágica, ficava pendurada e mantinha o sabonete suspenso como um pêndulo, coisa que certamente só existia ali, naquela casa. A cozinha com uma mesa era de vidro que tinha sido feita para espremer a mão no fundo e passar um bom tempo contando as linhas da vida, do amor e da saúde.
Mas a melhor hora era quando a moça de tranças e voz macia anunciava com delicadeza "e agora na passarela..." e surgia por detrás da porta alguma garotinha de lábios encarnados, pinta preta perto do nariz, sapatos de salto alto ladeada por um pastor alemão de nome Terenso. Não era possível saber quem seguia quem, se era a garotinha ou o Terenso. Passavam horas assim, enquanto no andar de baixo alguém discutia algum assunto que não era bala, salto alto ou boneca.
Nunca conseguiu lembrar como o desfile acabava, sabia apenas que o homem de cabelos cinzas e lisos sempre lavados e que ao final de cada visita lhe dava uma bola de tênis era quem a carregava para o carro.
Nunca mais voltou naquela casa e nunca cansou de tentar entendê-la, sabia que para sempre da janela do quarto a mulher de cabelos pretos e lisos estaria ali acenando e esperando o próximo sábado.

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