Mal-humorada mastigava com força o bife empanado, quando engolia era como se estivesse engolindo brita, sabia de cór e salteado o significado de uma comida que "desce quadrado". Não olhava muito para o que comia e nem para o que estava ao lado. De repente ao som de um trovão, sem guarda-chuva pensou no quanto odiava São Pedro, virou-se para o lado e para o seu espanto viu a personificação do próprio santo. Nunca imaginou que ele fosse tão bonito e jovem. Sempre pensou em um São Pedro barbudo, grisalho e um pouco gordo.
Não imaginou também que ele almoçava no mesmo restaurante que ela e que tinha os olhos mais azuis que já vira. Talvez aquele São Pedro estivesse mais para um dândi grego do que para uma caricatura de frade.
Mas e depois da visão o que faria com aquilo? Poderia esbarrar nele sem querer e arrumar um meio de travar um diálogo, mas o que falar com um santo que cuida do tempo, além do tempo? Falar sobre a sua falta de guarda-chuva, sobre os inconvenientes da chuva para o trânsito, para a cidade, para o universo e para qualquer outra coisa que eram irrelevantes naquele momento.
Mas no fundo sabia que a idéia de esbarrar em São Pedro não era muito boa, pois não levava jeito para esbarrões. Preferiu pedir ajuda à Santa Rita, aquela das causas impossíveis ou essa seria Santa Edwiges? Desistiu da ajuda de santos e santas, lembrou que poderia ser amaldiçoada para recorrer a eles pedindo ajuda para fins ilícitos.
Seu tempo de almoço estava se acabando, nenhuma das duas santas a ajudavam e a chuva antes salvadora resolveu parar. Não poderia ficar ali parada na porta esperando nada, pois não queria chamar atenção de São Pedro pela moral oposta, parecendo uma louca divagante sua única saída seria abrir mão do seu eterno e grande amor por um santo e voltar ao trabalho. O que a consolava é que no trabalho poderia voltar a pensar no homem-sem-rosto-com-a-letra-mais-bonita-do-mundo.
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