segunda-feira, 12 de março de 2007

Hike up your...

Ficava quieto, olhava para o lado. Ficava quieta, olhava para o lado. Torcia para que a gota da esquerda ganhasse, mas a gota da direita descia mais rápido. Logo pensou, se a gota da esquerda ganhar eu falo, como ela estava em extrema desvantagem, o jeito era continuar muda batendo com a ponta dos dedos, discretamente, na janela gerando assim mais e mais corridas, permanecendo calada por mais alguns instantes dando-se chances para voltar falar. Pois sempre havia chance para a "nêga" e certamente não pararia na terceira tentativa.
No fundo sabia que o mais certo era seguir o que a corrida de gotas na janela lhe diziam intuitivamente em uníssono, "fique quieta". Mas ela não era mulher de se deixar comandar por um bando de gotas presas a um vidro de carro, virou-se decidida a falar, e o que fosse falar soaria de forma tão clara mas tão clara que não haveria mais enganos, desenganos e desencontros. Estava tudo tão claro que só conseguiu tossir e buscar abrigo nas gotas da janela, que a olhavam triunfante.
Finalmente ele falou, falou sobre o tempo e mais alguma coisa que era importante. Porém no meio da descrição do tempo ela já não ouvia o que era dito. Fazia sempre isso, com qualquer pessoa e em qualqer situação. Quando o que ouvia não era aquilo o que gostaria de ouvir, sem querer e sem perceber não ouvia mais. O quê em alguns casos foi sua salvação em outros casos, respondia com um "você tem razão" o que na na verdade era uma pergunta sobre o dia. Mas ela, ali dentro, voltou-se a preocupar com as gotas e a pensar o que era necessário ser dito, quando já não se tem mais o que falar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Posso eleger este como o meu preferido, não posso? :)

Harissa B. disse...

hahaha, pode sim!