segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Botões

E como se nunca estivesse ali, de repente reconheceu a cor. E sem mais nem menos tudo fez sentido. Uma rua parecia com a outra, mesmo em cidades tão distantes, justamente pela cor. Um marrom cheio de sombras causadas pela pedra irregular e foi necessário uma tarde de horário de verão para que soubesse finalmente porquê gostava daquela lá, agora tão distante.
A vida era feita de pequenos mistérios que a cada dia se resolviam com um olhar de relance, se olhasse muito algo não enxergava nada. Mas olhando sempre distraidamente, descobria-se algo. Claro que nesse jogo não adiantava fingir nem roubar de si mesma, embora tal prática fosse constante. Afinal de contas, qual seria a graça do mundo criado se nós não fossemos completamente felizes nele?!
Dentro dele, cartas guardadas em pacotinhos de plástico no fundo de uma antiga caixa era a despersonificação de alguém, de algum passado. Enquanto as lia era como se tivesse diante dela, um balde com água cheio de botões e era delicioso colocar o braço dentro dele e ficar lá rodando, podia fazer isso por horas infindas. Sentindo a água entre os dedos, fazendo rodamoinhos de botões no silêncio absoluto que uma tarde de sol lhe permitia.

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