Voltava feliz pra casa, um pouco contrariada por mais uma casa demolida no caminho, mas voltar a pé era sempre um consolo. Olhava a todo instante para o céu, sabia que dali a instantes começaria chover. Ao sentir os primeiros pingos d'água e ver que as folhas estavam voando em rodamoinho, arrependeu-se de não ter pego um casaco. Não fazia frio algum, mas não era necessário o frio para que tivesse medo de chuva.
Ao cair o primeiro raio, entrou em uma oficina velha. O dono, um velho que fumava charuto, na verdade era uma sombra que assumia formas horripilantes quando a luz oscilava. Estava só com aquela mancha que a todo instante a fazia lembrar do refão: "A velha, com a faca na mão... passando manteiga no pão, passando manteiga no pão".
Ele não falava nada, apenas deu um pedaço de bolo dormido e foi juntar-se a escuridão. A chuva estiou, saiu correndo espalhando bolo por todo lugar. Andava pela rua, pois toda sombra na calçada pareca um velho dono de oficina ou a merda de algum cachorro. Por um instante odiou todos os donos de cachorros e os próprios cachorros, por se deixarem domesticar. A única coisa que não odiava naquele instante era a sandália, talvez fosse porquê a tivesse ganho de uma mulher que provavelmente já tinha esquecido dela.
Entrou no quarto correndo, ainda com o pedaço de bolo não mão, colocou o casaco na bolsa...
2 comentários:
Oi Harissa, apesar de ser visitante assiduo de teu blogger, é a 1a vez que tenho coragem de comentar! rs....acho muito legal os teus textos...simples e intenso! Parabéns...e ve se me aceita no msn moça! rs
beijos
Provavelmente não...
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