quarta-feira, 28 de abril de 2010

por abril.

As terças feiras de abril misturam diversos sentimentos: preguiça, melancolia e o fervilhamento que o conhecimento causa. Às 17:00h a preguiça domina. Domina ao pensar que será necessário esperar até as 20:00h para fazer algo realmente bacana, domina porque a fome começa a abrir um pequeno buraco no estômago, domina porque é o momento de demonstrar que seu dia inteiro foi produtivo.

Das 18:00h às 20:00h vem a melancolia, o ócio abre as portas para a imaginação juvenil (sempre propensa a inferioridade). Desse modo para o outro todos os dias são de festas, o silêncio só demonstra sua total falta de importância para a vida alheia e seguimos assim com uma sucessão de pensamentos bizarros.

Lá pelas 19:40, ao se deparar com uma placa que homenageia os estudantes desaparecidos entre 1968/69 o sangue vibra e finalmente e felizmente só é possível pensar que a vida pulsa. Pulsa mesmo com toda a necessidade (desnecessária) do nó na garganta.



E entre às 20:00h às 22:00h é puro fervilhamento, que por 4 terças-feiras seguidas foram constantes. Descobrir as diversas facetas da Lina Bo Bardi, mudar de opinião sobre ela por 4 vezes e perceber que ‘dançar conforme a música’ não é sinônimo de se vender e sim de maturidade e segurança daquilo que faz e ama, impulsiona até as pessoas mais ausentes de si mesmas.

Entre 22:00h e 23:00h acontece o que? Calmaria, trombetas angelicais tocando ao fundo? Não, nada disso. Das 22:00h às 23:00h é a eterna conciliação entre carona e ônibus. Nessa terça-feira em questão não tem conciliação nenhuma, então VIVA o Bilhete Único.

No letreiro ao longe desponta um Butantã-USP 702U, “Moço, vai pela Dr. Arnaldo? Ah ta, beleza. Brigada. Boa noite.”. Quatro pontos e 10 minutos depois, Terminal Pirituba 917H, alguns lugares vazios então vale a pena. Av. Dr. Arnaldo, a preferida das preferidas. Em frente aos boxes de flores a primeira brecada, ok, a maioria dos motoristas de ônibus pensam que estão carregando bois. Logo depois mais duas brecadas e tudo bem, nós breca, mas não capota. E finalmente, quase em frente a uma apagada Cardoso de Almeida o motorista imprensa um carro contra outro ônibus por três vezes. Tchãrãm, gritaria, porta do ônibus fechada, um monte de coração na garganta e o caos instaurado. Quando alguém grita que tem um policial (à paisana) no ônibus o motorista abre a porta.
Por um quarteirão, todas as pessoas que até então estavam sozinhas caladinhas e sentadinhas em um banquinho azul, viram conhecidos de décadas. E são diversas opiniões: motorista do ônibus é o culpado, motorista do carro é o culpado, os dois são culpados e blaus. Parque Continental 874C adeus amigos! A última viagem de graça, mas o que são R$2,70 comparados ao conforto do lar?
Melhor descer em frente ao colégio, tem mais movimento. Boa! Conferindo a lista de presença do ponto: uma senhora, uma mulher (contando você, duas), dois adolescentes cabulando aula. De um lado para o outro, diversos adolescentes de capuz, frenéticos e doidões. Bingo! A pessoa exala malandragem com um sapato laranja. Mas tudo bem, drogado não rouba ninguém, leva só o ventilador da avó para tomar uma fresca.
E quem nunca leu em Pollyana que  contra o desespero é melhor mudar o foco? Vamos lá, contando quantas pessoas de jaqueta de moletom com capuz e sem camiseta por baixo já passaram por você nesses 10 primeiros minutos? Quantas vezes a luz do poste apagou e acendeu? Nesses últimos meses quantas vezes você pensou que andar de ônibus não é mais tão divertido assim? Quem descobriu o Brasil?



Terminal Pirituba-Via Lapa (viu, funcionou). Não pára no lugar ideal, mas é sempre bom um cooperzinho noturno.

Um comentário:

lamacita disse...

nem bois merecem ser levados desse jeito. acho que eles pensam que não levam NADA mesmo.