terça-feira, 22 de janeiro de 2008

teleco-teco

Enfiou a cabeça dentro do braço dele e não saiu dali enquanto o homem fantasiado de vermelho não se afastou. Não tinha medo de "bate-bola", nem de pierrot e nem dos presidiários. Mas tremia todas as vezes em que algum chifre se aproximar, sabia que ele vinha pegá-la por não ter dobrado a camiseta que a mãe pediu.
Gostava do gosto de confete, quando era o garoto moreno de cabelos lisos e fantasiado de índio que jogava violentamente em seu rosto. E para desespero do menino, não retrucava, não sorria e não o xingava. Dava de ombros, cínica, serena e triunfante.
O peito enchia-se de ar e quase engasgava com a felicidade. Porém ao avistar ao longe o homem alto vestido de vermelho e rabo em forma de flecha e que sorria para ela. Corria, corria e corria pelo salão, trombava com melindrosas, caía em cima de baianas, marinheiros, ciganos e de forma alguma conseguia encontrar a única pessoa capaz de salvá-la.
Cansada e derrotada, ouvia aflita a marcação contente da caixa e se não fosse pelo terror constante causado pelo homem de vermelho e bigode preto bem aparado, se deixaria levar por aquela alegria toda, pela sensação breve de que todos ali estavam sentindo a mesma coisa. Mas era preciso ter cautela, pois a cada momento lembrava-se de uma saia jogada no chão, de uma meia escondida de baixo do colchão e do óculos quebrado. Com fome e com o calor, esperava ansiosa o baile terminar. O pequeno índio, jogou novamente confete nela e surpreso recebeu um sorriso, sentou ao seu lado e ofereceu guaraná, depois churrasquinho e por fim jogou de novo confete em seu rosto. Ele saiu correndo, ela levantou, ajustou a saia de rumbeira juntou no chão todo o confete e serpentina que conseguiu e corria desenfreada pelo salão, seguia-o pela linha certeira que a serpentina presa em suas costas desenhava pelo salão. No meio de toda a alegria quente, do suor moreno, do confete, ráfia e purpurina que se espalhava pelo ar, ela o adivinhava no salão.

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