sexta-feira, 1 de junho de 2007

pastilhas amarelas

Escadão de pastilhas amarelas, fez mentalmente todo o trajeto: portão-pátio de pedra portuguesa vermelha-sala-escada forrada com plastico preto-paredes verdes-Jesus Cristo no alto da parede e ao lado da Madre-cantina-freira emburrada-Sebastiana-pipoca doce-pátio de pedra portuguesa vermelha-quadra de cimento-sala de aula-professora ao piano-Jesus Cristo no alto da parede e ao lado da Madre-professora gritando e pisando no pedal do piano-mais salas-mais Jesus Cristo-mais Madre.
E de repente um prédio com brises no centro-oeste paulista, com o provável cheiro que todas as repartições públicas devem ter cai do céu, como uma bigorna de um desenho do papa-léguas. Olhou bem para a recepcionista de óculos e perguntou:
- Não há como nós nos vermos né?!
- Claro que não, minha filha, aqui somos muito responsáveis!
Quando olhou para o lado, viu uma figura bege que fingia não vê-la. Tremia enquanto respondia perguntas para alguém que perguntavva para outro para perguntar primeiro para ela:
- Você tem bens?
- Um rádio e uma TV.
O único ali qua falava com ela, pediu para que se levantasse e olhasse por um buraco alguém que não que não queria saber quem era. Enquanto isso, ao seu lado aqueles que não dirigiam a palavra a ela, conversavam sobre amenidades; provas a corrigir, o clima quente, o aniversário da filha. Mas era assim que devia ser, tudo organizado em potinhos de tempêro.
Agora longe, pensou que talvez não tivesse raiva e que não sentisse nada. Para ele podia ser o tão buscado "momento perfeito", tentou refazer o trajeto do mesmo jeito que fez com a escada de pastilhas amarelas. Não conseguia, parava no meio fechava o olho bem forte. Assim, afastava qualquer coisa e quando abria de novo sentia aquele nó na garganta de novo e sabia que o mais fácil era pensar naquele corredor com uma pequena escadinha vermelha.

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