sábado, 18 de novembro de 2006

PMSP - 2006-1.811.214-3

Aquilo era como um túnel sem luz no fim, tão amedrontador como o velho túnel escavado por índios e negros em uma cidade serrana. Era impossível livrar-se de si mesma e tudo que a rodeava, aos poucos perdia a graça. Difícil admitir que ela mesma perdera a graça, talvez estivesse se acostumando ao peso do cotidiano. Notou com certo espanto que já era época de ipê-manga e nenhum suspiro de satisfação foi dado.
Seu mundo estava ficando pequeno para tudo aquilo quer queria apreender. Mas há sempre um ônibus cheio para pegar, há sempre um despertador que toca triunfante sempre na mesma hora, há sempre processos para conferir, casas a medir e algum problema que não lhe diz respeito a resolver.
Do mesmo jeito que há sempre a tarde perfeita e a luz perfeita que incide no prédio de vidro translúcido e que forma a paisagem mais bonita que há. Há sempre o cara escroto que brinca com o filho do jeito mais solene e divertido e que naquele exato instante torna-se o cara legal do livro do Ziraldo. E sempre quando abre a porta escuta aquela voz que lhe conforta e que se não tivesse aquele timbre ensurdecedor a vida não teria a mesma graça.
Mas ali, quando lhe perguntam sobre o tempo, sobre o dia, sobre a vida e sobre o que realmente ama. Fica meio perdida, pois são tantos os dias, o tempo vira tão rápido, a vida é mais que uma linha na mão direita mas também não é muito mais que aquilo e o que realmente ama é tão vasto que fica difícil responder de sopetão. E ao invés de responder sorri, porque é o que sabe fazer bem.

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