Não era sempre que pensava naquela roda, mas quando o fazia a sua imagem era nítida. Ali de baixo via apenas um homem com gorro marrom. Lembrava-se de todo o trajeto pelo "palácio" e da naturalidade incomun entre duas pessoas que não precisam ser além do que já são. Ao olhar o casal, lembrou-se dele. Ela quieta, grávida, com um olhar distante. Ele falante, apaixonado, falava dos brinquedos que seriam comprados para o guri e com o pé descalço carinhava o pé calçado da mulher. Pela primeira vez não sentiu náusea ao ver a demonstração de carinho entre um casal apaixonado. Normalmente o som do beijo alheio a irritava e as implicâncias entre duas pessoas que são cúmplices faziam com que a comida voltasse para a garganta.
Talvez por isso, a imagem do homem de gorro era tão nítida. Faltava ali a pretensão, o objetivo. Olhar o jardim com luzes verdes era naquele instante mais interessante e mais importante que saber os gostos do outro. Era aquele egoísmo não muito usual entre duas pessoas que acabaram de se conhecer que transformaram tal episódio num acontecimento quase como a passagem do cometa Halley.
Um comentário:
Cara, me impressiono com sua pena.
Onde a deita, parece já saber ela o destino do seu encontro com o papel...
Ou dos dedos com as teclas, e não estou falando de pianos...
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