sábado, 19 de agosto de 2006

Duas Avenidas distintas e paralelas.Ligavam a parte nobre e sofisticada da cidade até a parte central. Nunca havia dado tanta importância para elas. Era óbvio também, que gostava muito mais da parte central delas, do que do lado sofisticado. Aprendera facilmente a gostar do tosco, do velho e das ruínas.
Achava irônico como a fisionomia da cidade mudava de quadra para quadra, havia tanto planejamento, tantas restrições e leis e burocracias, que visivelmente não serviam para nada. Há tempos descobrira que não existia verdade alguma na vida real, descobrira isso em uma aula sobre vigas e lajes no qual era dito assim: "Vocês fazem essas contas, certo? Mas já existe um programa que faz tudo isso com mais precisão e mais rapidez. E na hora de construir vocês verão que vai ter que usar sempre um pouco a mais ou um pouco a menos de concreto.Sendo assim tudo isso serve apenas de baliza, nada é exato." Uma aberração para alguém que gostava tanto do 0.00, dos traços ortogonais, firmes e limpos. Embora ela mesma não conseguisse fazer isso, deixava o papel sempre um tanto borrado e seus desenhos tinham traços de pessoa indecisa.
Agora tinha a certeza do motivo pelo qual gostava tanto da parte velha da cidade, tudo era tão rabiscado e cheio de informações. E havia sempre aquela fachada que servia apenas de cenário, pois o resto da casa já tinha sido demolido, com uma pintura tão velha quanto ela em fontes garrafais escrita VENDE. Pelo menos naquela não havia uma placa da Valentina Caram, uma mulher certemente abominável.
Mas na área nobre haviam as árvores sempre tão bonitas, canteiros milimétricamente aparados por algum restaurante chique, que cuidava com gosto e orgulho daquela parte tão importante para a cidade. Com casas projetadas por pessoas inovadoras, tão inovadoras que todas tinham o mesmo aspecto: fachadas com volumes ortogonais e revestimentos da úlitma moda. Tudo era tão perfeito naquela parte que até a idéia de cidades-jardim era quase cumprida, não fosse pelas grades que cercavam o lote.
E tudo passava tão rápido de dentro do ônibus que até os desenhos tortos de símbolos da cidade em um muro de super-mercado não eram tão tortos assim.

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