Gostava de casas amarelas, velhas, aparentemente abandonadas e com uma luz fraca eternamente acesa.Sempre que passava por ela a noite, sentia que a vida era mais do que casar-terfilhos-envelhecer-ternetos-casadepraia-seioscaídos-morrer. Naqueles poucos segundos em frente àquela mesma casa, conseguia lembrar-se de todos os rostos que junto com ela observavam o enorme buraco no chão e que a cada dia transformava-se em algo diferente, quantificava as casas construídas na rua com nome de doce e que por alguma força obscura algum dia seriam dela, experimentava de novo a sensação de finalmente entender o significado da expressão "me invadirias subitosuave" assim como no dia em que conseguiu atravessar a rua correndo enquanto o sinal de pedestres piscava urgente. Depois que passava por ela, tudo voltava ao normal e a vida tornava-se um dia atrás do outro com alguns solavancos no meio. No fundo sempre havia a esperança do dia seguinte, aquela casa ali a noite sozinha e sem ninguém dentro. Pelo menos aquela era protegida por lei, pelos menos ela poderia garantir a si própria que por algum tempo a sua segunda casa amarela não cederia espaço para famílias irritantemente felizes empilhadas em caixotes.
Pelo menos até descer do ônibus o mundo estava a salvo e as coisas nos seus lugares de sempre.
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