Por ali sempre tocava alguma música regravada, desta vez parecia Roberto Carlos "das lembranças que guardo da vida você é a saudade que eu gosto de ter..." enquanto imaginava a saudades de Roberto, foi acordada por uma buzina estridente. Olhou para trás e viu que no meio da rua em que acabara de passar, o quê estava ali no canteiro central não eram sacos de estopa, eram pessoas aquecendo-se no sol da tarde fria de outono.
Puniu-se de mentira. Acostumara-se com aquilo e ainda sim sentia-se humana, sem dó ou compaixão.
Na tarde que caía flácida, ela olhava o buraco que escavavam no chão, ali do alto da passarela. Não estava só, ao seu lado mais meia duzia de pessoas estavam fascinadas com toda aquela solidez, garantia de segurança e comididade crescendo, tornando-se cada vez mais próxima e real. A maioria daqueles que estavam lá com ela, haviam passado pela rua de canteiros humanos. Não queria saber se sentiam-se tocados com a cena, queria saber se algum deles olhou aquele canteiro e viu mais do que sacos de estopa.
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