O homem de ombros caídos contava e recontava as figuras do álbum enquanto ela preocupava-se em não ultrapassar os limites do morango que coloria. Era como se estivessem sozinhos ali, vez em quando ele perdia a conta da figurinha-vale-brinde e ela, olhava pra cima relembrando de um sorriso estranho que a perseguia há tempos. Um sorriso cínico, de um homem de bigode e que para alguém tão nova era o diabo que lhe sorria, enquanto ela escondia-se atrás do ombro do avô.
Desesperadamente procuravam dentro da sala algo que lhes desse a certeza de que estavam ali sozinhos. Os morangos acabaram, os adesivos também. O quadro que descrevia o "Madeira Palace Hotel" fora completamente desvendado pelos dois. Era nítido a insatisfação deles com o fato da sala ser tão pobre em cacarecos. Um quadro, três sofás, revistas em uma mesa de centro. Não havia rachaduras na parede, mofo no teto, tacos soltos no chão. Uma perfeita sala de tortura, para quem procura não notar o outro.
Por fim, ele tirou uma nota de 10 reais e a entregou. Não disse nada e saiu com calma.
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