domingo, 21 de agosto de 2005

6:00 da manhã

Eram 6:00 de uma manhã fria de inverno, a neblina não permitia que nem aquele solzinho característico desses dias estivesse presente. Além da ausência do sol, não havia também ninguém na rua.
A rua era dela.
Mas ela andava tão depressa, tão envolta em seus pensamentos e tão destinada a chegar rapidamente em lugar algum que sequer notou que aquele era o momento que há muito esperava. Esperava a solidão completa, não mais aquela dos dias vazios em que ela passava horas sentada na parte do seu quarto em que batia o sol. Tais dias nunca eram perfeitos, pois sempre havia alguém na casa disposto a tirá-la da solidão almejada.Queria sentir a solidão completa de uma vez só, acreditando que se sofresse a dor mais profunda que conseguisse talvez nunca mais sentisse dor alguma. Talvez também nunca mais sentisse coisa alguma.
Porém em tal manhã ela não percebia ou não sabia o quê fazer com o momento esperado. Corria como uma sonâmbula pelas ruas, quando no meio de um jardim viu uma mulher que cantava sozinha para uma platéia imaginária. Da boca da mulher não saía som algum, havia apenas o gesto e o seu palco era uma placa de cimento delimitada pela grama. A mulher cantava de olhos fechados, sorria e era como se ela estivesse sempre ali.
As duas manteram seus gestos por alguns minutos. Uma, parada petrificada acordada em meio ao sonho e a outra, cantando freneticamente uma música indecifrável que era só dela. Quando voltou a si ela percebeu que a rua já estava lotada e que ela tinha que continuar seguindo seu trajeto, foi embora sem ser notada pela outra que continuava a cantar.

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